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Visão para o futuro
Em fase experimental, transplante de retina consegue conter a degeneração macular
Uma das maiores dificuldades da oftalmologia é encontrar um tratamento
efetivo para a degeneração macular, principal causa de cegueira em
pessoas com mais de 60 anos. Na semana passada, durante um congresso
médico realizado em Sevilha, na Espanha, o oftalmologista Rubens
Siqueira, pesquisador do departamento de retina da Universidade de São
Paulo em Ribeirão Preto, apresentou os primeiros relatos de pacientes
brasileiros submetidos a uma nova técnica para o controle da doença – o
transplante de retina. A cirurgia consiste na retirada de 1 milímetro
quadrado da camada mais externa da retina do próprio doente e o seu
implante na mácula, a estrutura responsável pela visão central (veja o
quadro). O objetivo é fazer com que o tecido transplantado assuma as
funções das células da mácula e o paciente, assim, recupere o máximo
possível da capacidade de enxergar. A técnica ainda é experimental. No
mundo inteiro, foram realizados apenas quarenta transplantes de retina,
sete deles no Brasil. Em metade dos casos, a doença foi estabilizada.
Outros 30% dos pacientes registraram melhoras consideráveis na
qualidade da visão.
"Serão necessários pelo menos mais dez anos para que o procedimento
possa ser aplicado com segurança", diz Rubens Belfort, oftalmologista
da Universidade Federal de São Paulo. De qualquer forma, é um grande
avanço na busca por um tratamento para a degeneração macular,
especialmente a do tipo seca, para a qual não há nenhuma terapia de
cura. Essa forma da doença é responsável por 90% dos casos, o que
equivale a 2,7 milhões de vítimas no Brasil. O outro tipo de
degeneração macular é a úmida. Ambas se caracterizam pela diminuição no
aporte de oxigênio para a mácula, provocada pelo envelhecimento. Como
conseqüência, as células dessa região ocular morrem – o que leva o
doente à perda da visão central e, nos casos mais graves, à cegueira. A
diferença é que, na degeneração macular úmida, para tentar vencer a
falta de oxigênio, o organismo cria uma rede anômala de vasos
sanguíneos sob a mácula. "Além de ineficientes, esses vasos tendem a se
romper com facilidade, o que acelera o processo de cegueira", diz
Francisco Max Damico, oftalmologista da Universidade de São Paulo.
A medicina só oferece tratamento para portadores da degeneração macular úmida – e, mesmo assim, em situações muito específicas. De medicamentos a cirurgias com laser, as terapias disponíveis limitam-se a conter a proliferação da rede paralela de vasos sanguíneos. Ainda não se conseguiu desenvolver nenhum método capaz de reparar o dano causado pela morte das células da mácula. Se confirmado o sucesso das experiências feitas até agora, a chave pode estar no transplante de retina.
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